Quando uma crise econômica atingiu a Nigéria na década de 80 prejudicando a indústria
audiovisual, os nigerianos não se abateram. Eles foram em busca de um novo formato de produção e, em 20 anos, se transformaram na segunda maior indústria cinematográfica em produção do mundo,
levando ao mercado interno e externo cerca de 200 filmes por mês.
De todas as particularidades de Nollywood, que é hoje um exemplo para todo o continente africano e para o mundo, a democracia ao acesso é o seu pilar central.
- É um modelo democrático onde é possível produzir. É barato de operar, aproveita as condições econômicas da Nigéria e usa como matéria-prima uma população enorme, cheia de ótimas histórias para contar – diz, em entrevista ao Por dentro da África, Jonathan Haynes, professor da Universidade de Long Island (Nova Iorque), que há décadas se debruça sobre os estudos do cinema nigeriano.
A proposta de Nolywood, nome que nasceu em 2002, não se encaixa no perfil comercial de Hollywood (indústria dos Estados Unidos). Ela é autêntica e olha única e exclusivamente para a África e para a Nigéria, uma fonte vasta de energia e de curiosidade com mais de 250 línguas e dialetos. Por conta disso, Nollywood não produz apenas em inglês, mas em línguas locais como yoruba, igbo e hausa.
Em um país onde a maioria das famílias tem mais aparelhos de DVDs do que refrigeradores, e onde ficar em casa é uma opção mais segura e barata do que sair às ruas para ir ao cinema (cerca de 70% da população vivem com menos de US$2 dólares por dia e não podem pagar um ingresso de cerca de US$10 dólares), Nollywood cresceu, criou raízes e uma regra: levar os filmes para os mais de 170 milhões de habitantes! Nolywood surgiu contrapondo a necessidade de treinamento técnico e domínio de equipamentos caros, usados na indústria cinematográfica mundial. O objetivo que regia os cineastas era contar histórias. E foi esse desprendimento técnico que transformou esse modelo em um sucesso, usado como exemplo em todo o continente e em regiões do Caribe.
- Nolywood tem um longo caminho. O país precisa criar laboratórios de processamento, e a técnica precisa melhorar, mas já há muitos trabalhadores aprimorando luz, áudio, edição. Conforme o retorno financeiro aumenta, maiores são as possibilidades de evoluir tecnicamente – conta Haynes sobre o mercado que emprega, pelo menos, 200 mil habitantes e movimenta US$250 milhões de dólares por ano (o terceiro
maior do mundo atrás de Hollywood e Bollywood – cinema indiano).
Mahmood Ali-Balogun, um dos diretores mais renomados do cinema nigeriano, fala com orgulho da atuação de seus conterrâneos que não segmentam o processo de produção dos filmes. Segundo ele, desta forma, eles não precisam destinar recursos a tantos terceiros.
- As pessoas que compõem a equipe trabalham em várias áreas. Todos precisam ter uma noção do todo porque essa é a nossa fórmula de sucesso.
Nós filmamos em 10 dias, em um mês. Quanto mais rápido você fizer, mais retorno terá – disse o diretor de ”Tango with me” – o longa-metragem mais lucrativo do mercado nigeriano em 2011 que foi exibido
em Londres e que, nas salas de cinema nigerianas, superou os 100 mil espectadores.
A revolução na distribuição O start para Nollywood foi seguinte à crise econômica que atingiu em cheio os cinemas nigerianos. Mahmood lembra que as salas começaram a fechar, e muitas se tornaram igrejas
e outros estabelecimentos. Brevemente, os nigerianos encontraram uma saída que abrangia a
produção para a TV e para o vídeo. A demanda para os cinemas estava abalada, mas não a
demanda para a TV e para o vídeo-cassete, na época.
Living in Bondage (lançado em 1992) é considerado o primeiro blockbuster de Nolywood exibido em vídeo e estrela do Prêmio da Academia Africana de Cinema. A obra dirigida por Chris Obi Rapu é um misto de religiosidade e crenças que ajudou a construir a estética de Nollywood.
Desde então, milhares de filmes foram lançados. Em 2009, a Unesco descreveu Nollywood como a segunda maior indústria (de produção) do mundo e a segunda atividade que mais emprega nigerianos.
No país onde o ingresso do cinema é caro demais para a população, o mercado de sucesso é o DVD. Em todo o território, há apenas 12 cinemas multiplex com quatro salas de exibição. De forma independente, os
próprios produtores faziam seus filmes chegarem ao público da forma mais simples possível: pelas ruas.
Ainda hoje, a preços acessíveis (cerca de US$2 dólares), os filmes são vendidos nas ruas e em locadoras. Mesmo com o custo baixo, havia uma estratégia para combater a pirataria. Zeb Ejiro, diretor de Domitilla (filme lançado em 1996, grande sucesso de Nolywood), conta que, no início, as cópias eram assinadas manualmente e depois embaladas. O trabalho árduo que parecia interminável (dependendo do número de cópias) não era ineficaz como parece para um ouvinte.
- Havia algumas pessoas para avaliar isso. O próprio diretor ou produtor poderiam fazer: entrando nas locadoras e pegando uma cópia. Ao abrir a embalagem, a assinatura era conferida; se fosse falsa, a polícia era chamada – conta ao Por dentro da África Zeg, também no comando da Film and Broadcast Academy, instituição que ajuda a formar mão-de-obra especializada.
Para Jonathan, o estudioso que passa dias esmiuçando a indústria dos nigerianos, há muito o
que aprender sobre Nollywood, onde filmes que custam aproximadamente US$15 mil dólares são produzidos em 10 dias e viram grandes hits.
- É muito difícil fazer filme sem eletricidade… Em a lguns lugares, onde há ausência ou quedas de luz, o processo é prejudicado. Mesmo com tantos desafios, eles estão expondo a imagem da África que é moderna e tradicional. Certamente, é um exemplo de autenticidade.
FONTE: http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/nollywood-o-cinema-da-africa-que-surpreendeu-o-mundo
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